28 novembro, 2010

(a)Ventura.




Passaram três dias após o encontro dos dois. Tentaram marcar de se ver e nada dava certo. Ele iria embora qualquer dia, e a possibilidade de não conseguirem conversar pessoalmente a incomodava. Ele tinha parado de mandar mensagens durante um dia inteiro, sendo o bastante para ela achar que havia ído embora. Desesperada, escreveu e rescreveu mil vezes a mensagem, aparentemente normal, pedindo notícias e perguntando a data de sua viagem. Quando finalmente enviou a mensagem, recebeu outra dele, pedindo para  ir na casa onde estava hospedado. Que estaria sozinho e poderiam conversar. 
Normalmente, isso seria uma indício para ela se afastar do cara: convidar uma moça pra ir sozinha para uma casa onde ele vai estar sozinho, não seria algo bom. Mas isso veio tão rápido à sua mente, quanto foi embora. Tomou um banho demorado, para passar o enjoo do nervosismo pré-encontro, e foi.
Pegou o ônibus e quanto mais perto chegava do endereço mais tonta ela ficava. Na parada próxima à rua que ele havia dito, ela desceu e encontrou facilmente a casa. Pronto, estava em frente, bastava apertar a campainha e se entregar. Mas não conseguia, não saberia o que iria falar. E se ele estivesse bêbado naquela noite e não a achasse tão agradável hoje? Era bem provável: sentia-se feia. E o calor aumentava. Sem conseguir respirar direito, nas pontas dos pés, ela apertou a campainha.
Não funcionava. Pelo menos não se ouvia nada. Ficou com vergonha de bater à porta, se virou para ir embora, e o celular vibrou dentro do bolso da sua calça. "Acho que você não vem". Ele devia ter adivinhado,  ou ouvido o coração dela pulsar na calçada e a dúvida gritar naquela cabeça castanha. "Estou em frente à sua porta, eu acho". Ela teve a impressão de ouvir ele rindo, e sorriu calma. Nem um minuto direito depois, a porta abriu e ele apareceu com aquele sorriso... Ah, o sorriso que arrancava todos os sentidos dela. Por sorte, ele puxou para abraça-la e ela apoiou-se nele para não desabar. 
-Já estava me conformando que não iria te ver antes de ir embora. Que bom que você veio para mim.


Ele pegou a mão dela e a guiou para dentro da casa. 


16 novembro, 2010

Ventura.




Ela o viu de longe quando estava chegando, ele já atraía toda sua atenção. Um pouco desnorteada percebeu que a única mesa vaga para ela e suas amigas, era a mais próxima dele. Sentiu as pontas dos dedos dos pés formigarem e um calor vindo da outra mesa penetrar por cada poro de sua pele. O resto era automático, ela queria mesmo era se afogar naqueles olhos castanhos. Quando era hora de rir, ela ria. Quando era hora de fazer o pedido, ela fazia. Quando era hora de conversar com as amigas, ela tentava.
Ele a olhava quase todo o tempo e ela desaprendia a respirar. Quando sentia queimar a face de tanto que o olhar dele a envolvia, tentava olhar para outro lugar, que na maioria das vezes eram as próprias mãos esquecidas em cima da mesa. Ele fumava e a olhava de uma maneira como se pudesse enxergar mais do que qualquer outra pessoa ali.
Depois de algumas horas trocando olhares, eles já se sentiam mais íntimos, a ardência por baixo da pele se tornara mais gostosa do que constrangedora. Ele sorriu, ela não conseguiu não sorrir também.
Tinha que ir embora, já haviam pedido a conta. O desespero tomou conta dela, pensava que não o veria novamente. Levantou-se e foi ao corredor que levava aos banheiros, na esperança que ele fosse segui-la. Depois de dois minutos, ele estava atrás dela. Sorrindo por cima da barba. Ela não sentiu mais nada, estava entregue. Perdia o controle de si, antes mesmo de existir alguma palavra entre os dois.
-Não iria te deixar ir, sem antes vir falar contigo.
Não sabia o que responder, esquecera como falar também. Sentia-se tonta. Apenas sorria, era o que sabia ainda fazer. Ele sorria também, não estava mais calmo que ela.
- Você tem um rosto muito bom... Passa uma coisa muito boa.- ele falava sorrindo -Seus olhos são lindos, quase perdi a noção quando os vi em minha direção.
"Obrigada" foi só o que conseguiu sussurrar.
-Está tímida?
-Muito.
-Também estou...Estou em transição.
O silêncio tomou conta, ela não conseguia olha-lo tão perto, estando tão vulnerável a ele.
-Você está com amigas... Quero conversar melhor contigo e aqui não dá... Podemos sair? Você é daqui?
-Sou. E você?
-Não, estou de passagem.- Ela esmoreceu.-Me diz teu número.
Ela falou incerta. Havia esquecido das amigas esperando, "Tenho que ir".
-Tudo bem.- E foi seguido de um beijo na sua face.
Ela foi embora tonta, com as amigas que nada perceberam.
Quando estava na cama, recebeu uma mensagem às cinco horas da manhã: Boa noite para os mais lindos olhos. Embriagada de felicidade, adormeceu.