26 maio, 2010

Libertação


O gosto do último cigarro tragado ainda amargava sua boca. Ouvia um jazz antigo e cantarolava seguindo a melodia. A letra da música era sobre o arrependimento, e nisso ela pensava. Estava tão cansada... mas não arrependida. Não, jamais! Tinha vontade de saber se ele já se arrependera de algo na vida. E cogitar isso, não lhe fazia bem. E se ele tivesse se arrependido de todo mal que tinha lhe feito? Tudo teria sido em vão... Mas não, ele nunca se arrependeria de nada, sempre considerava-se o "dono da verdade". Que verdade, meu amado? Agora tinha sua lição. O cheiro da morte feria suas narinas. Ela amou aquele homem. Aquele mesmo homem que todos os dias puxava seus cabelos e batia-lhe na face. Recordava dos dias em que ele beijava os seus olhos arroxeados e dizia em segredo que não queria fazê-la nenhum mal. As lágrimas não cessavam, as lembranças não cediam e o sangue dele ainda estava no seu vestido e em suas mãos. A faca descansava aos seus pés e ao lado do corpo do marido. Viúva e vingada.

09 maio, 2010






Te olho. Sinto seu olhar queimar minha face. Tontura. Enjoo. Falta de ar. Desequilibrio. Seu cheiro invade minhas narinas. Fico mais tonta. Sua mão segura a minha. Corrente de energia por todo corpo. Batidas cardíacas incontáveis. Seus dedos escorregam pelo meu rosto. Não sinto o chão. Seus braços enlaçam minha cintura e me puxa para perto do seu corpo. Sussurro no teu ouvido, tentando controlar a respiração: Não me deixe tão solta.

O tempo é travesso.

"Hoje é feriado, é o dia da saudade"



É engraçado: todos acham que esse dia é triste para mim, por lembrar de minha mãe... Mas eu gosto muito de hoje, todos parecem estar dispostos a ouvir falar dela, já que nos outros dias isso só causa constrangimento.


Todos os dias eu recordo de como era quando a tinha. Hoje não é mais que uma mera data, mais um dia sem a sua presença.