29 junho, 2010

Mínimos detalhes.



A pele tão cândida com pequenas e charmosas sardas. Ela era mais menina do que moça, sendo esse o seu décimo aniversário. A mais nova e a mais bonita. Com seu corpinho delicado, ela passaria facilmente por oito ou nove anos. Pediu ao pai, de aniversário, um vestido florido e bem barato que viu outro dia. Preocupada com as despesas de casa, ele sabia.
Acordou mais cedo que o sol e foi enfeitar seu longo cabelo carmesim. Ouviu os pássaros acordarem e suspirou pensando em ficar mais velha. Limpou as densas lágrimas sem explicação que tentavam se desprender dos seus olhos e foi de encontro ao pai na cozinha. Tinha lhe preparado um desjejum maravilhoso com sua comida preferida.Seu pai beijou seu nariz e avisou que Thales, melhor amigo dele e quem iria leva-la para escola, estava no carro.
Thales nunca foi próximo, mas ela gostava dele pelo pai confiar tanto. Algo, naquele dia, estava fazendo-a ficar enjoada ao lhe olhar. Ela tentou sorrir apesar do embrulho no estômago e entrou no carro o cumprimentando. O caminho era diferente pelo que ela ía todo dia com o pai. Na verdade, parecia mais distante. Resolveu não falar, ele devia saber o que estava fazendo, afinal morou naquela vila o mesmo tempo que sua família.
Eles começaram ir para um lado da vila que nem ela mesma conhecia. De repente, parou o carro de frente a uma casa velha, "Vou pegar algo que esqueci, pequena". Ela sorriu para ele, consentindo. Thales foi ao porta-malas e tirou uma pá, depois entrou nos jardins da casa e desapareceu no verde das árvores.
A cabeça dela rodou de tanto enjoo e saiu do carro em buscar de ar. Resolveu ir para dentro daquele jardim estranho, em busca de Thales. Passou por algumas árvores, lutando contra os galhos, acabou desmanchando todo seu penteado. Já desanimada e com medo de chamar pelo nome do amigo do seu pai, por não ter nem ideia onde estivesse, ela atravessava silenciosamente. Ela se livrou dos últimos galhos sentindo a terra entrar na sua sandália. Quando se deparou com Thales.
Thales estava completamente sujo de terra e com a pá na mão. Sem entender, ela buscou no que via uma explicação e encontrou um buraco. A tontura aumentou. Não era muito grande, nem muito fundo. Sentiu que ía desmaiar. Um buraco que nem caberia uma pessoa... Aliás, caberia sim. Caberia ela. Caiu no chão desacordada. "Feliz aniversário, pequena".

25 junho, 2010


Ele tinha acabado de chegar. Ela estava sentada na areia, apenas sentiu a presença dele lá, ao seu lado. Ela estava esperando ele criticar algo, como sempre. Tinha se arrumado toda para ele, mas nunca estava bom o bastante. Silêncio. Ele não falava nada. Isso a incomodava, queria pedir para ele dizer logo o que fez de errado hoje e ir embora. Mas não disse nada, apenas sentou ao seu lado. Afundou os pés na areia, juntos do dela. Juntos demais. Ela finalmente olhou para ele. Ele sorria. Mas um sorriso confuso. Um sorriso que era típico dela e nunca dele. Ela não aguentou olha-lo, baixou o rosto. ele passou a mão no seu queixo. Ela temeu que fosse alguma brincadeira dele, como todas as outras vezes. "Deixe-me". Levantou-se fugindo dele, para não ver suas lágrimas teimosas. Ela sentiu as mãos dele na sua cintura, e em seguida sentiu o corpo dele colado nela. "Não vou te deixar, porque você é a única que quero". Ela estava perfeita para ele naquela tarde. E ele para ela.

18 junho, 2010



Em algum lugar perto dali, ouvia-se a voz do Raul Seixas... Tão baixa, que parecia um sussurro distante..."Eu nunca cometo pequenos erros, enquanto eu posso causar terremotos"... Despertou com uma sensação de leveza. Nunca era bom o bastante para ninguém. E ele adorava isso.
Piscou os olhos e percebeu que não sabia onde estava. Em uma cama desarrumada no que parecia ser um quarto... um quarto bem... bem roxo. Pontada na cabeça. Não lembrava da noite anterior. Nem lembrava com que roupa estava vestido antes, pois agora ele estava sem.
Sentiu-se enjoado, nervoso. Tentou levantar-se. Vacilou, caiu novamente na cama. Observou melhor o quarto de menina. Ursos, livros, computador, armário e muito, muito roxo. Sentado na cama ainda, tentou pegar as roupas que eram dele do chão, quando ouviu um sorriso borbulhante vindo da porta.
Um garota pequena, de camiseta preta e meias. Branca como neve e de olhos de um verde escuro. Mas o cabelo era o que mais prendia a atenção: escorrido e negro, com as pontas roçando nas suas coxas nuas.
"Finalmente acordou, guri", falou com uma amabilidade tão grande que ele se sentiu em casa. Mas não sabia como reagir à garota seminua, mas queria senti-la. Apenas ficou calado, olhando-a. Ela se jogou na cama ao seu lado e beijou-lhe. Ele soube ali que não precisava falar nada, que era com ela que ele devia estar e não queria se afastar. Queria agora ser bom para alguém.