13 fevereiro, 2009

A tal sedução mortal


Tua feiticeira do mar,


Que te colhia a lucidez


Ao oferecer seu canto maltês


E nos seus cabelos velejar.






-Oh Iara maldita!


Seus olhos trazem a tentação.


Seu corpo carrega paixão...


Que nele, ansiava ao menos uma visita.






Finja ser recíproco, enlaçando-o com teus braços.


Leve-o à sua moradia fatal.


Sereia, afogue a tua imagem angelical...


Deixando apenas lembranças e retraços.


03 fevereiro, 2009

A austeridade de uma sobrevivente da falta


A vida que vos trago,

Ou melhor, a vida mortificada (Já cheia de buracos),

Causados pelas estradas,

Pelas calçadas,

Pelas pessoas caladas...

Ela é minha, mas não só minha,

Dos meus semelhantes também:

Os que sofrem do desdém,

Do medo e do asco.

Somos assim,

Idênticos no padecimento

Damos duro para fugir do assombro

E nos aprisionamos nos falsos sonhos.

Sou mais uma mãe interiorana,

Que sonhava em dar a seus descendentes

Uma vida descente.

Bati a cara no muro.

Vi sim meus filhos saírem da plantação de cana,

Mas também os vejo agora

Se afundarem na lama.

Toda minha vida tive medo.

E agora não tenho mais.

Por que fim pior destino não faz:

Vendo meu marido morto

Meus filhos morrendo

E eu rezando para não viver um segundo mais.

A morte sempre foi nossa companheira na vida:

Eu, viúva.

Meu marido era coveiro.

Minhas crias convivem com ela

(seus amigos morrem diariamente)

Já pensei em me matar,

Mas a coragem que foi embora com minha vinda,

Fazia-me desistir.

A minha raça se esgotou na minha chegada.

A mãe, forte e guerreira, tornou-se vítima da dor...

Minha maior surpresa

Foi o casamento, a cura, a esperança da minha filha

Que se ergueu no meio dos nossos ossos

E conseguiu meu sonho:

Ter felicidade na vida.

E melhor, pegou nossos cacos

E fez um belo jarro

Da volta da confiança,

Confiança na vida.