30 dezembro, 2010

Vacas que não temem a morte.







Estava terminando de colocar as malas no carro e as lágrimas percorriam suas bochechas. Nunca foi de chorar, mas precisava ir atrás do que queria. Não o achariam na cama, nem suas roupas pelo quarto. Muito menos alguma carta de despedida. Não que ele não tivesse coração e não se preocupasse como iriam se sentir, mas ele tinha certeza que quando parasse para pensar em dar adeus, a coragem é quem seria a fugitiva.
Entrou no carro e partiu. Saiu da cidade, que foi seu berço, sentindo o vento tentando lhe segurar e ele fingindo que eram carícias. Acelerava e sentia as algemas, que o prendia na pequenina cidade, começando a ficar para trás.
Quanto mais acelerava, mais a sensação de liberdade o possuía. Não sabia para onde estava indo e muito menos o que iria fazer quando chegasse, mas ele estava indo. Sem temer, ele estava correndo atrás do que mais o fazia falta ali. Ele corria atrás de si mesmo.

13 dezembro, 2010

(des)Ventura.


Seu sabor era doce. Não se sentia mais nervosa, sentia-se em casa quando aspirava ao cheiro suave da pele tão branca tingida com pequenos pontinhos ferrugem. Não o achava mais inalcançável, sentia-o como uma parte dela. Era totalmente dele, e ele dela. Um cantor jamaicano fazia a trilha sonora daquela tarde quente e as paredes enfeitadas com Dali criava um cenário afetuoso. Naquela rede fria, sentia o corpo fervente dele, e se abrigava. Não escondeu nada dele, ela deixava sua alma exposta e deslizava nas pernas dele. As linguas se confundiam e bailavam.

Estava perdida, começava a sentir o formigamento de um sentimento forte demais por aquele rapaz, que vinha de tão longe e ia embora ao amanhecer. Sabia que não seria para sempre aquela tarde, mas encontrou a eternidade nos seus braços. Derramou gemidos de prazer no ouvido dele, e adormeceram juntos.

Ela sem querer acordar, levantou quando já não havia claridade no céu. Deu o último beijo no seu adormecido e sussurrou um adeus entristecido. Pegou a mochila e fugiu daqueles sentimentos loucos que entorpeciam seu coração inexperiente. Ao passar pela porta da casa dele, Alice rezava para não doer tanto quando despertasse do seu País das Maravilhas.