A vida que vos trago,
Ou melhor, a vida mortificada (Já cheia de buracos),
Causados pelas estradas,
Pelas calçadas,
Pelas pessoas caladas...
Ela é minha, mas não só minha,
Dos meus semelhantes também:
Os que sofrem do desdém,
Do medo e do asco.
Somos assim,
Idênticos no padecimento
Damos duro para fugir do assombro
E nos aprisionamos nos falsos sonhos.
Sou mais uma mãe interiorana,
Que sonhava em dar a seus descendentes
Uma vida descente.
Bati a cara no muro.
Vi sim meus filhos saírem da plantação de cana,
Mas também os vejo agora
Se afundarem na lama.
Toda minha vida tive medo.
E agora não tenho mais.
Por que fim pior destino não faz:
Vendo meu marido morto
Meus filhos morrendo
E eu rezando para não viver um segundo mais.
A morte sempre foi nossa companheira na vida:
Eu, viúva.
Meu marido era coveiro.
Minhas crias convivem com ela
(seus amigos morrem diariamente)
Já pensei em me matar,
Mas a coragem que foi embora com minha vinda,
Fazia-me desistir.
A minha raça se esgotou na minha chegada.
A mãe, forte e guerreira, tornou-se vítima da dor...
Minha maior surpresa
Foi o casamento, a cura, a esperança da minha filha
Que se ergueu no meio dos nossos ossos
E conseguiu meu sonho:
Ter felicidade na vida.
E melhor, pegou nossos cacos
E fez um belo jarro
Da volta da confiança,
Confiança na vida.
2 comentários:
Relendo...
pensamento profundo e tocante..
ares que chegam pra demonstrar a verdadeira preocupaçao do seu eu interior com o eu exterior..
as pessoas precisam ler textos assim ..
parabéns pela escrita completa!
:D
Postar um comentário