01 março, 2010

Um adeus avermelhado


Com o corpo debruçado sobre a velha mesa da cozinha, devorando uma melancia mais que suculenta. Que menina travessa! Parecia não haver tempo, nem outra comida em todo o universo. “Taíssa...”, chamei. Ela, de cabeça baixa e boca repleta de pedaços da pobre melancia, resmungou algo incompreensível. “Taíssa, olhe pra mim!”, ela levantou a cabeça e ainda engolindo o último pedaço que colocara na boca, lançou-me um olhar triste. Talvez tenha sido por causa da melancia largada para me dar atenção, ou não. Apenas sei que naquele momento percebi o quanto eu fazia mal à minha pequena de boca menor ainda. Sorri, mandando-a esquecer, que não era nada. Saí em direção ao nosso quarto. Se é que era “nosso” ainda... Eu tinha minhas dúvidas. Pensei em me deitar e dormir um pouco, mas não sou tão tolo, sabia que não resolveria. Apenas, sentei-me na borda da cama e comecei a recordar: Seu sorriso tão sincero no dia em que fomos apresentados; o vestido florido que ela usava nos dias especiais; a maneira que nossas mãos se encaixavam perfeitamente; os olhos brilhando quando a despertei pela primeira vez, com uma bandeja de café da manhã nas mãos; E, principalmente, há poucos minutos quando ela me olhou... Quando percebi que ela já não era minha. Peguei minha pequena mala velha e marrom, e juntei todas minhas roupas impregnadas com o cheiro da minha pequena. Fechei a porta do quarto que agora era só dela e fui à cozinha. Taíssa já estava no final da vermelha melancia, abracei-a por trás me afogando nos cabelos cor de rubi. Ela ainda sentada, virou-se e procurou minha boca com a sua, puro sangue da fruta. O gosto adocicado de sua boca, tornou a despedida mais terna. Soltei-a e fui embora. Libertei minha amada. Libertei-a de mim.

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